Quando o Ricardo Caldeira me desafiou para escrever o prefácio desta nova obra dele “Ao Coração da Liderança”, confesso que me entusiasmei desde a primeira hora… Primeiro, porque sou um fã da sua escrita personalizada, afetiva, emocional e sempre com uma carga elevada de concentração do melhor dos mundos: experiências pessoais, leituras e pesquisas e muita atenção ao nosso “mundo sentido e vivido”.
A sua escrita é, desta forma, uma viagem sempre em várias dimensões, em multiplataforma e formatos (das grandes ideias às pequenas reflexões) num exercício claro de aprendizagem e inspiração.
Nesta nova obra “Ao Coração da Liderança”, os lideres voltam à escola, não sem antes passarem por um check-up completo e complexo à sua saúde física e mental. O problema é quando terão de passar pelo “serviço de cardiologia” e são sujeitos aos respetivos meios auxiliares de diagnóstico…
É que, ao nível do coração (como quase tudo na vida!) existem sempre duas dimensões – os males e os bens associados a este super músculo mágico. Lá dizem os especialistas que o coração “é o músculo mais importante do corpo humano”.
Dei por mim, desta forma, a consultar múltiplas e assustadoras patologias que os lideres com e sem coração poderão experienciar ao longo das suas jornadas de liderança… Se o Ricardo diz que existe uma forma de “liderar com o coração” a gente acredita… Temos é de entender como está o nosso coração, o tal que, para o bem ou para o mal é chamado aqui à coação e que pode assumir múltiplos sentidos.
Os males do coração…
Bem, comecemos pelos males… os males do coração…
E, para isso, até porque me estou a meter por caminhos “muito apertados” do meu desconhecimento, lá fiz o exercício que um ignorante faz quando precisa de por a ideias em ordem (ou será desordem?): fui googlar, seja lá isso o que for, à procura das principais doenças do coração. Por favor não façam isto em casa (nem em parte alguma!), deixem isto para os médicos especialistas por favor, mas, já que o fiz, aqui vai o “Top 4” da melhores PIORES doenças que podem afetar o nosso coração…
Uma volta pelas principais doenças do coração, o elenco é completamente assustador e para um ignorante assumido no tema, o melhor é a organização mais “segura”. Aqui estão apresentadas pela ordem alfabética:
A primeira é a denominada “aterosclerose” que é quando o sangue não flui corretamente no organismo. Uma série de “placas”, de forma silenciosa, vão alojando-se nas paredes dos vasos sanguíneos impedindo a normal circulação do sangue. Esta doença é causada pelo excesso de colesterol e outras gorduras e pode causar um AVC. Que tal? Para começar não está mal…
Ainda na letra “A”, aparece-nos as “arritmias”… É quando o coração fica fora do ritmo cardíaco normal, sendo que o coração pode bater demasiado rápido [“taquicardia”] ou demasiado lento [“bradicardia”] ou, ainda, de forma irregular [“taquidisrritmia”]. Estas patologias podem causar dificuldades de respiração, vertigens ou, no limite, enfartes e AVC. Bom, ainda estamos nas duas primeiras e já nos “falaram” duas vezes em possibilidade de AVC…
A terceira patologia deste elenco é a “cardiomiopatia”. É quando o problema vem de dentro do próprio coração. Trata-se de uma patologia que afeta o músculo cardíaco e está relacionada com o desgaste progressivo da estrutura e função das paredes musculares internas do coração. Neste caso, para além da insuficiência cardíaca, a patologia pode dar origem à formação de coágulos sanguíneos e conduzir à morte súbita. A “coisa” piora de letra para letra deste alfabeto de patologias possíveis…
Por último, e até porque este é assumidamente um “Top 4”, aparece-nos a mais comum “hipertensão arterial”. Os especialistas “googlados” dizem que é a mais comum e umas das principais doenças. Tem origem no excesso de pressão que o sangue exerce sobre as paredes das artérias durante a circulação sanguínea. Pode resultar em enfarte agudo do miocárdio e AVC.
Bom, não sei se tenho leitores ainda por aí “a esta hora”… Mas as noticias não são nada animadoras nesta rúbrica “males do coração”… Sobretudo, meus caros “Líderes com coração” se não tiverem o dito em bom estado ou, pelo menos tratado, o futuro não parece ser muito auspicioso e feliz…
Extrapolando [quer dizer, hiperbolizando…], lideres que vão permitindo o alojamento de “placas tóxicas” no seu e nos vasos sanguíneos dos outros, não permitindo que o “sangue” (leia-se, vida, energia, mensagens inspiradoras positivas…) flua livremente na organização e que todas as “veias e artérias da comunicação” estejam desimpedidas, bem desocupadas de pedaços de toxicidades diversas de comunicações perversas e negativas, más interpretações, preconceitos, “ideias gordurosas” entre outras “placas” alojadas, são claramente os que sofrem de uma espécie de “aterosclerose organizacional” e o seu futuro e da equipa pode mesmo ser o abismo de um AVC organizacional.
De igual forma, o que dizer de um líder inconstante e inconsistente, que às vezes irrita e às vezes acha que promove o espirito de equipa [qual equipa? A equipa já só está “de corpo presente”…] numa incongruência de ações e intermitência de atuações? Só pode ser um tipo de líder que claramente passa a sua “arritmia sistémica” para todos à sua volta, incluindo o seus (supostos) liderados… Esta inconstância de atuação provoca uma dificuldade imensa em respirar num ambiente tóxico e, mais cedo ao mais tarde, um AVC vem a caminho do próprio e dos seus. É fugir destes, mesmos amigos…
Ah mas também temos as lideranças que nunca aceitam as suas fragilidades, numa deixam “cair qualquer máscara” perante alguma insegurança, numa delegam por medo de serem ultrapassados por algum dos colaboradores, que promovem o “medianismo”, e que rapidamente criam para si mesmos doenças como a incapacidade de delegar, de desenvolver, de estimar o erro como fator de aprendizagem e, desta forma, promovem a sua própria doença e sofrimento internos, numa lógica de quase degradação silenciosa tão característica de uma “liderança cardiomiopática”, que promove um ambiente sofredor, deprimente e, até, autodestruidor. A morte lenta destas lideranças são, quase sempre, promovidas pelas próprias mesmo achando que, simplesmente, estão a carregar os “fardos” das suas equipas.
Por último, e bastante comum, ao que parece… temos os “lideres hipertensos” que abundam nas nossas organizações. Passam rapidamente de vitimas a agressores e, mesmo quando acham que são “uns tipos porreiros” até porque são autointitulados “de porta aberta” causam uma enorme pressão nas estruturas, nos processos e nas pessoas, resultando mais cedo ou mais tarde, num enfarte na própria estrutura organizacional. Por ser muito comum, as “lideranças hipertensas” lá vão de vez em quando medir a tensão das equipas através de estudos de clima organizacional, tomando um ou outro “comprimido” de motivação (ou promessa de que vai controlar ou autocorrigir…) e autoconscencializa-se que um dia vai mudar radicalmente de vida, passar a fazer exercício de auto reflexão e autodesenvolvimento e mudar os seus hábitos de alimentação [recorde-se que, este tipo de lideres alimenta-se muito das influencias e do “submundo das trocas e da comunicação informal”, na bajulação e dos compadrios].
Assim, numa assentada, encontramos quatro tipos de lideranças claramente doentes do coração e que fazem emergir nas suas organizações e equipas todos os males associados a uma Liderança com Coração… doente!
Os Bens do Coração…
Como vimos, o coração é definitivamente um dos órgãos mais importante do corpo humano. Bombeia o sangue, promove a difusão por todo o organismo do “oxigénio” (leia-se, a energia positiva), e tem uma capacidade (quase inesgotável) de produzir inspiração e mobilização, sendo claramente o motor de toda uma engrenagem que encaixa na perfeição e que promove o correto funcionamento de uma série de processos e subprocessos.
Este é o “coração do bem”! Aquele que faz acontecer sempre de forma inesgotável, que dá o exemplo em nunca parar de acreditar, refrescar, conduzir… mas sem que se tenha de reparar na sua perfeita organização e influência.
O “coração do bem” (ou, o bem do coração?) também é um espaço de emoção… de múltiplas emoções, sensações, de pulsar e fazer pulsar.
As “Lideranças com Coração do bem” são, por isso, positivas, saudáveis, energizadoras, mobilizadoras, impactantes, focadas na sua vida e na vida dos outros que podem influenciar.
Num sentido mais esotérico, estas lideranças são plenas de satisfação, de felicidade ao sentir a felicidade à sua volta, agregam outros corações pois estão atentas aos ritmos cardíacos de cada um dos membros da equipa e promovem uma saudável leveza que só um coração a bater “no ritmo certo” consegue promover.
Em sentido poético, as lideranças com coração são inspiradas pela inspiração dos outros, são apaixonadas, são crentes na generosidade e gratidão que uma palavra de alguém que confiam [sim, sempre a confiança !] lhes pode proporcionar.
Este é o lado do Bem dos Lideres com Coração… dos que passaram nas provas de esforço organizacional com distinção! Daqueles que sabem que um CORAÇÃO CHEIO não significa, definitivamente, um monte de lixo tóxico e corrosivo, mas uma plenitude de emoção e sentido de prazer e felicidade organizacional.
Voltando ao bonito e emotivo texto do (nosso) Ricardo Caldeira, os Lideres com Coração são lideres que sabem como chegar ao “Coração da Liderança”, sabem cuidar de si, cuidando dos outros. São lideres emocionais, confiantes porque confiam, crentes porque continuam a acreditar e a agregar outros em torno da sua energia e, sobretudo, são LIDERES COM IMPACTO E IMPACTANTES na vida das empresas e na gestão (cada vez mais necessária, porém difícil) da equação PESSOAS & NEGÓCIOS.
Agora que terminei esta “espécie de prefácio” deixem-me (de coração, garanto!), qual mestre de cerimónias, dizer que foi um prazer imenso beber cada palavra do fantástico texto do Ricardo, desejar ao todos os leitores o prazer que saborearem cada momento, cada expressão, cada conselho mais ou menos assumido.
Boas leituras mas, sobretudo, ótimas reflexões!
E, querido leitor, há quanto tempo não faz um check-up ao seu coração?
Pedro Ramos
