(este é o tema da minha palestra no VI Congresso Internacional de Educação “Um Novo Tempo” promovido pelo Instituto CASAGRANDE, Curitiba, Brasil, 11 a 13 de junho de 2025).

O Pensamento Sistémico apresenta-se como uma abordagem imprescindível para responder aos desafios complexos da educação contemporânea. Esta perspetiva convida-nos a olhar para além das partes isoladas de um sistema, procurando compreender as suas interconexões, as dinâmicas, os feedbacks e os padrões que moldam o ambiente escolar. Assim, na prática educativa, compreender a escola, os professores, os alunos, as famílias e a comunidade como elementos de um sistema integrado torna-se fundamental. Nenhum componente atua isoladamente; todos estão em constante interação, influenciando-se mutuamente e contribuindo para o funcionamento e a transformação do sistema global.
No contexto do século XXI, a importância do Pensamento Sistémico torna-se ainda mais evidente. Vivemos numa era marcada por rápidas mudanças, inovação contínua e uma crescente complexidade. Como consequência, é imprescindível que se desenvolva uma visão de 360 graus para preparar cidadãos e profissionais capazes de atuar eficazmente no mundo moderno. Para tal, é necessário cultivar competências que vão além do domínio técnico, como a autonomia, a responsabilidade, a liderança, a autogestão e o protagonismo. Estas qualidades são essenciais para que os indivíduos possam contribuir de forma consciente e responsável na construção de uma sociedade mais justa e inovadora.
Este paradigma também introduz o conceito do “Eu Sistémico”, que ressalta a necessidade de cada gestor, professor e estudante desenvolver uma consciência de si mesmo enquanto parte de um sistema maior. Promover autonomia e responsabilidade é uma estratégia central nesse processo, estimulando os estudantes a assumirem o protagonismo das suas aprendizagens e projetos de vida. A liderança educativa, por sua vez, deve incentivar a autogestão, criando uma cultura escolar que valorize o protagonismo de cada pessoa, reconhecendo o papel ativo que todos podem exercer na transformação do espaço escolar.
Outro aspeto relevante do Pensamento Sistémico na educação é a compreensão de que a escola constitui um sistema aberto, composto por múltiplas relações que respondem às influências do meio envolvente. Não se trata de uma entidade isolada, mas de uma rede viva que respira, se adapta e evolui com o passar do tempo. Esta visão permite implementar lideranças colaborativas e responsáveis, que reconhecem o impacto de cada ação e procuram promover uma cultura de inovação e responsabilidade partilhada. Assim, a escola passa a ser um espaço de aprendizagem constante, de crescimento coletivo onde cada participante contribui de forma consciente para o aprimoramento do sistema.

Para ilustrar estes conceitos, diversos símbolos têm vindo a ser utilizados na reflexão e na prática educativa. O espelho, por exemplo, sugere a importância do autoconhecimento como ponto de partida para liderar com autenticidade e responsabilidade. A corda bem forte simboliza as ligações sólidas que devem unir as pessoas no interior do sistema escolar, promovendo uma liderança colaborativa. Os blocos de montar representam a construção de uma escola sólida, onde autonomia e responsabilidade sustentam uma estrutura capaz de se adaptar às mudanças. O relógio ou despertador recorda-nos a importância de gerir o tempo com autonomia, respeitando ciclos de aprendizagem e de mudança.
A planta de interior, como uma orquídea, reforça que o crescimento sustentável exige cuidado e atenção, assim como a responsabilidade de cultivar ambientes que permitam o florescimento de estudantes protagonistas. A régua ilustra a relevância de estabelecer limites claros, mas flexíveis, que possibilitem a responsabilização e a autogestão. O chaveiro com várias chaves simboliza as oportunidades e soluções que surgem ao abrir portas de responsabilidade e protagonismo. O copo de água reforça a ideia de renovação contínua e circulação de ideias, enquanto a lanterna simboliza a liderança visionária que ilumina caminhos e revela novas possibilidades.
Por fim, o livro ou caderno de notas serve de símbolo de autoconhecimento e aprendizagem contínua, incentivando cada indivíduo a assumir o protagonismo na sua própria formação. Todos estes símbolos reforçam a necessidade de uma visão integral do sistema escolar, na qual o desenvolvimento humano, a responsabilidade e o protagonismo se entrelaçam numa rede que valoriza o aprender e o crescer em comunidade.
Em síntese, para construir uma educação capaz de enfrentar os desafios do século XXI, é fundamental que cada gestor, professor e profissional da educação assuma o papel de um líder consciente e responsável. O Pensamento Sistémico oferece as ferramentas necessárias para criar uma educação mais conectada, ética e orientada ao desenvolvimento integral do ser humano. Ao desenvolver uma visão holística, colocando o ser humano no centro de uma rede de relações colaborativas, podemos transformar as nossas escolas em espaços de inovação, aprendizagem e crescimento mútuo. Assim, deixa de ser apenas um local de transmissão de conhecimentos para se tornar um espaço de transformação e desenvolvimento integral de cada indivíduo e da sociedade como um todo.
Adotar o Pensamento Sistémico na educação não é apenas uma estratégia, mas uma postura que nos convida à reflexão sobre quem somos, como agimos e qual o papel que desempenhamos nesta rede de relações. Com esta abordagem, podemos construir um futuro onde a escola seja um espaço vibrante de protagonismo, responsabilidade e esperança, onde o aprender se torna uma experiência contínua e coletiva.
Ao reconhecer que a escola é um sistema aberto e em constante transformação, estamos também a valorizar a diversidade de opiniões, experiências e conhecimentos que cada membro traz para o ambiente escolar. Essa visão promove uma cultura de colaboração, onde as ações de cada um têm impacto no funcionamento global, consolidando a ideia de que todos somos agentes de mudança.

Transitar de uma visão fechada, de uma escola isolada, para uma perspectiva aberta, faz toda a diferença na criação de ambientes educativos mais inovadores, flexíveis e resilientes. É dessa forma que podemos preparar os nossos estudantes não apenas para o mercado de trabalho, mas também para uma participação cívica responsável, para o exercício de uma cidadania ativa e para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e sustentável.
Por tudo isto, reforço a importância de promovermos uma cultura de reflexão contínua, onde o autoconhecimento, a responsabilidade, o protagonismo e a colaboração sejam valores centrais. O Pensamento Sistémico é a nossa ferramenta mais poderosa para alcançar estes objetivos, permitindo-nos construir escolas mais humanas, mais éticas e mais capacitadas para o futuro.
Em última análise, uma educação alicerçada nesta visão integral é capaz de formar indivíduos capazes de atuar com consciência, de se adaptar às mudanças e de contribuir para a construção de um mundo melhor. É um percurso desafiante, mas profundamente enriquecedor, que exige a participação ativa de todos os agentes educativos. Afinal, só através do entendimento de que fazemos parte de uma rede de relações é que podemos verdadeiramente transformar o ambiente escolar e, com ele, a sociedade.

Convido assim todos a abraçar esta visão sistémica, a refletir sobre o papel individual e coletivo, e a trabalhar juntos na construção de um sistema educativo mais coeso, inovador e humano. O futuro da educação depende de cada um de nós, pois, ao olharmos o todo, percebemos que somos parte fundamental de uma grande rede de aprendizagem e de mudança.
Pedro Ramos
